Mel





Toda a produção, industrial ou artesanal que envolva animais está ligada à sua exploração de várias formas. Na criação de abelhas, as abelhas-rainhas são inseminadas artificialmente; para tanto, é preciso a obtenção do esperma do zangão, o qual tem a sua cabeça arrancada e sua parte de trás espremida; com o líquido obtido se insemina a abelha-rainha. As abelhas para a produção de mel são essencialmente de três espécies importadas: alemãs, italianas e africanas. Como essas abelhas não pertencem à fauna brasileira, elas provocam um grande impacto na sobrevivência das espécies nativas de abelhas, bem como de outros animais que dependem do néctar e do pólen para a sobrevivência. Dependendo da época climática, a produção de mel é baixa, e as abelhas precisam das reservas de mel produzidas através de seus esforços para sobreviverem, mas, devido à ganância dos apicultores, eles continuam a retirar todo o mel da colméia, matando todo o enxame. Em épocas mais fartas, as abelhas também criam uma nova rainha, princesa, para perpetuar a espécie criando um novo enxame, levando consigo muitas das operárias da colméia. O apicultor, percebendo que a produção de mel irá baixar com a saída dessas operárias, ao fazer a revisão no enxame, detecta a “princesa” ainda em forma de larva e a mata. Esta revisão é feita normalmente em agosto. Outra forma de prejuízo aos apicultores são os animais silvestres que se alimentam do mel das abelhas, como tatus e iraras. Para contornar essa situação, os apicultores instalam armadilhas, capturando e matando esses mamíferos.
Embora você não esteja convencido de que as abelhas possam sentir dor ou demonstrar algum tipo de sofrimento, não pode negar que essa possibilidade existe. Os insetos possuem receptores nervosos convergentes; suas terminações nervosas são na pele (carapaça quitinosa). Admirar-me-ia que todo esse complicado sistema existisse sem uma função ou, sendo tão aproximado ao nosso, desempenhasse uma função tão diferente. Mas, mesmo supondo que as abelhas fossem incapazes de sofrer, mesmo assim, a produção de mel é antiética. Não deixaria, nesse caso, de ser um saqueamento, um roubo. A exploração da colméia é explícita, bem como toda a sua implicação no meio ambiente. Continuar a participar disso é ser inseticista (discriminar o direito intrínseco à vida dos insetos) e continuar sendo cúmplice da exploração dos mais fracos para satisfazer um luxo.

Sociedade Vegetariana Brasileira - Grupo Porto Alegre